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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Seg | 27.08.18

O bom professor

Acredito que ser professor é a profissão mais importante e bonita do mundo.

Claro que há valor em todas as profissões e que existem profissões extremamente importantes para a sobrevivência da humanidade e da própria vida na Terra (ou em outro sítio qualquer).

Mas existirão sempre primeiro os professores a educar as mentes brilhantes que poderão mudar o mundo.

Infelizmente não tenho qualquer vocação para professora. Não tenho o talento e a paciência necessários para ensinar pessoas competentemente. Já me vejo grega para educar as minhas crianças, missão que levo a cabo com uma seriedade que não dedico a mais nada.

Tenho, por isso, o maior respeito e admiração por todos os bons professores. 

Não tive muitos bons professores. Tive muito poucos mesmo bons o que, mais do que lamentável, acho muito grave.

Mas tive um, de História, no 9º ano que foi o melhor de todos.

O professor Paulo, na altura com 29 anos, era um profissional e um ser humano excecional. Tive muita sorte em tê-lo como professor de História naquele ano.

Sempre gostei muito de História o que até poderia ter ajudado a gostar dele mas, tanto quanto posso dizer com toda a sinceridade, ele poderia ser professor de mirandês que teria sido o meu professor preferido na mesma.

O professor Paulo ensinava a matéria de uma forma maravilhosa, com uma paixão contagiante e recorrendo sempre a meios alternativos: filmes, teatralizações na aula, exemplos práticos, livros, música... sempre sem nos poupar a pormenores mais chocantes ou radicais.

Mas ele ensinava mais do que a matéria obrigatória. Ele ensinava-nos sobre civismo, educação, empatia e humanidade em geral.

Notava-se que ele gostava de pessoas, gostava de as formar e esforçava-se para dar o seu toque ao mundo no sentido de o tornar um sítio habitado por seres mais conscientes e empáticos.

Com ele aprendi que os vilões não ganham sempre mas todos os outros têm que saber lutar. Os bullies da sala de aula viram-se todos aflitos com ele, que baseava as notas em muito mais do que nos testes ou nos trabalhos. Ele avaliava a forma como as pessoas se tratavam umas às outras e, principalmente, como se esforçavam por melhorar.

Ele ensinou-me o valor da arte em geral e da música em particular na mudança de mentalidades e do rumo do mundo. Ensinou-me sobre o capitalismo, sobre a capacidade ilimitada da crueldade humana sem me dizer o que pensar mas ensinando-me a pensar por mim.

Ensinou-me que todas as pessoas têm valor para lá da aparência e que é preciso lutar para sair da zona de conforto para sítios melhores.

Foi dos primeiros professores que me tratou pelo nome com total respeito e que me conseguia ver para além da rapariga tímida e assustada que sempre fui. Tenho a certeza que ele mudou a vida de muita gente naquele ano.

Naquela turma e naquela aula, os tímidos ganharam uma nova vida, os sabichões ganhavam uma normalidade pouco habitual e os que se dedicavam a azucrinar os outros viram a vida transformada num pequeno inferno onde existiam consequências para os atos de estupidez e maldade.

Depois desse ano fui estudar para Almeirim e a minha vida nunca mais foi a mesma.

Continuei a ser tímida e reservada mas deixei de usar apenas a fuga e a invisibilidade como técnica de sobrevivência.

Passei a ter objetivos, a fazer planos e a lutar por aquilo que queria com um crescente sucesso.

Tenho a certeza que o professor Paulo foi fundamental para esta mudança que se operou em mim aos 14 anos.